terça-feira, fevereiro 06, 2007

Situações difíceis – Acidente de trânsito – Parte 2

A independência e a possibilidade de ir e vir a qualquer hora aqui em Angola realmente fica prejudicada. Estamos sujeitos a problemas em qualquer lugar do planeta, mas as conseqüências podem ser diferentes de acordo com o local onde os problemas acontecem. Lidar com cabeça fria e sempre tirar algo positivo, uma lição de toda situação é o mais importante.

Lembro bem quando estava em casa no Brasil e simplesmente me dava na telha ir ao shopping, ou mesmo visitar um amigo. Podia ser a qualquer hora e quase qualquer dia, mas o fato é que a minha independência era algo precioso e que eu gostava muito. Com certeza não me encontro preso, muito pelo contrário, mas a questão é que além de ter que dividir o veículo com outras pessoas, também são poucas as opções de lazer ou de coisas a se fazer. Ficar em casa é o programa mais comum, com um bom livro, as conversar com Sérgio, um filme e meus pensamentos, além disso, é seguro ficar em casa.

A palavra segurança foi colocada de propósito, afinal todo cuidado e pouco na casa dos outros, todavia quando falo casa dos outros me refiro ao país. Semana passada um acidente de transito me deixou temeroso e ainda mais fechado ao meu apartamento. Uma profissional do grupo se envolveu em um acidente com o carro que ela estava a conduzir e que teve como conseqüência a morte de uma criança. Pelo que me foi falado ela não teve culpa sendo um carro que veio a se evadir do local o responsável. Contudo o fato é que com a participação dela o óbito da criança tomou proporções complicadas. A começar pela população local que por instinto já foram para linchar a mulher. Graças a alguns comerciantes esse fato não se concretizou. Ela pegou a criança nos braços e a levou para o hospital. Chegando com a criança já morta, foi presa no local e passou a noite na cadeia de Luanda. Aparentemente foi feito um acordo com a família mediante a pagamento de uma indenização de USD 2.000,00, mas tenho certeza que tanto o trauma para a família como para a profissional são muito maiores que a simples resolução do assunto.

É fato que estamos susceptíveis a problemas em qualquer lugar do mundo, em Angola, contudo há o agravante de ser branco além da possibilidade de ser linchado. Situação difícil essa. Há quem diga que o melhor é fugir do local e deixar o problema para trás. Já escutei casos semelhantes em que o condutor foi morto pela população, mas como ficaria a cabeça da pessoa, e os conceitos que aprendemos de ajudar ao próximo. Complicado lidar com esses conflitos internos e que tem que ser domados em meio à adrenalina e a consciência.

Como lidar com uma situação dessas, longe de casa, sem o apoio da família. Fico imaginando o quão assustada deve ter ficado essa mulher, sozinha, em uma delegacia de um país estranho, ainda mais quando o país tem todas as características peculiares de Angola. A melhor forma de lidar com isso é com certeza evitar que aconteça, logo, ficar em casa. Bom... Adoro meus livros!

2 comentários:

Unknown disse...

Bom Dia
Nao concordo consigo, quando sugere que em Angola haja racismo ou preconceito em relação a BRANCOS, ou que os BRANCOS sejam tratados de forma diferente, leia-se "em Angola, contudo há o agravante de ser branco"
O que existe em Angola existe em todo mundo e disse-o bem "estamos sujeitos a problemas em qualquer lugar do planeta"...Talvez um pouco mais em paises em vias de desenvolvimento como são os nossos Brasil e Angola.
Muitas vezes fui ao Brasil, conheço bem e muito estados. Já ouvi, vi e vivi casos de brutalidade, agressão, falta de civismo, racismo, etc...etc...Nem por isso vim para net galardoarme ou desabafar. No entanto admira-me o senhor entoar ou encaminhar para o item Racismo. Quando isso é uma coisa escancarada em todo Brasil, digo todo porque acredito que assim seja pois já estive em mais de 75% dos estados brasileiro e em todos foi o mesmo o negro quando não servente é sub-altero. Muito triste logo o Brasil que é o pais com maior número de pessoas da raça Negra depois da Nigéria.
Tenho lido e vou continuar a ler sempre o seu blog, é muito interassante, mas tomei a liberdade de abrir esse parenteses para dizer que foi infeliz nesses comentários e despertou um lado que não conhecia em si.
Atenciosamente

PS:- Não sou Negro, e sou Angolano

Antônio Spíndola disse...

Ola Tuly

Chamou-me a atenção o seu comentário e não pude deixar de responder. O que é escrito no blog é fruto de experiências passadas por mim. Quanto ao racismo, ontem mesmo, estava esperando o carro na calçada. Um kandongueiro que passou, sem o menor motivo, deu um grito perto de mim “PULA”. Todos dentro da condução riram. Sinceramente nem liguei, mas acontece. Sendo Angolano você sabe bem o que significa pula. É usado de forma pejorativa.

No Brasil existe racismo sim, e não só com relação ao negro, mulheres, nordestinos, etc... Eu por sinal sou nordestino, com muito orgulho. Existe até uma propaganda bem famosa vinculada na mídia de Recife que fala “Orgulho de ser nordestino”.

Em linhas gerais respeito a sua opinião, agradeço pela sua contribuição já que esse é um espaço aberto. Obrigado também pelo prestigio de ler o blog e espero que continue voltando.

Ficaria feliz ainda de vincular um artigo com a sua opinião sobre o racismo em Angola e no Brasil. Se quiser me escreva que terei prazer em publicar.

Spíndola