sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Lá no Recife

Me emocionei! Não tenho como descrever isso senão dessa forma. Hoje li o blog do Zeca Camargo e adorei. As palavras me faltam, melhor deixar que vocês conheçam um pouco da cultura da minha terra e da minha cidade pelas palavras dele.

Parabéns Zeca, excelente comentário!

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Lá no Recife
http://www.zecacamargo.globolog.com.br/archive_2007_02_15_34.html

Mesmo para quem, como eu, já está acostumado com o poder das coincidências, chegar à capital pernambucana bem no dia das comemorações dos 100 anos de frevo (sexta-feira passada) foi uma surpresa. Eu já sabia que 2007 seria o ano desse centenário, mas não me liguei nisso quando marquei uma entrevista (com um dos caras mais brilhantes que já falei, Silvio Meira, cientista chefe do César – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife – e colunista do G1; mais sobre isso, numa outra oportunidade) que não tinha nada a ver com o Carnaval. Estava no Recife, insisto, por coincidência, justamente numa das temporadas mais festivas da cidade – e foi difícil não me contagiar pelo clima das ruas.

Não, não cheguei a sair em nenhum bloco, nem do Recife, nem de Olinda – e olhe que não faltou convite. Ficava imaginando a animação de cada um deles – um delicioso exercício abstrato a partir de nada além dos seus nomes: “Quanta ladeira”, “Vai morrer pra lá”, “Vai dar na praia” (um daqueles raros trocadilhos bons), “Enquanto isso na sala de justiça” (no qual, me contam, é de bom tom ir fantasiado de super-herói!), “Acorda pra tomar gagau” (?), “I love cafuçu” (??), “Guaiamum treloso” (???), além dos surreais “Que sunga horrível” (batizado, segundo a lenda, por causa de um cara que apareceu com uma sunga indescritível para brincar o Carnaval – e foi imediatamente imitado por um grupo de amigos) e “Eu acho é pouco” (meu favorito absoluto).

No Rio de Janeiro, onde passo o Carnaval seguidamente desde 1996 (por razões principalmente profissionais – mas também por certo gosto...) já me deparei com blocos de nomes não menos curiosos, como “Suvaco de Cristo” ou “Concentra, mas não sai” – sem falar nos mais... esculachados, como “Rôla preguiçosa”... Mas a criatividade nominal dos blocos pernambucanos chamou mais ainda minha atenção e acabou ampliando minhas expectativas de uma boa festa – todas já sabidamente impossíveis de se realizar, uma vez que eu voltaria no sábado de madrugada para o Rio. Para “arrefecer”, precisava de uma espécie de antídoto, algo que me levasse para longe daquele espírito carnavalesco, e fui buscar refúgio naquela que eu acho que é uma das livrarias mais bonita do Brasil, a Livraria Cultura do Paço Alfândega (Recife).

Não foi tarefa simples, uma vez que, mesmo lá, nossa maior festa popular estava em destaque nas prateleiras principais. Mas, fuçando na sessão de CDs, encontrei um “velho amigo” chamado Eddie. As aspas não são gratuitas, uma vez que Eddie não é exatamente uma pessoa, mas uma banda – pernambucana, claro. Até hoje não sei dizer direito como o segundo disco deles, “Original Olinda style”, chegou às minhas mãos (tenho uma vaga lembrança de um envelope pardo, talvez enviado por uma assessoria de imprensa... mas são tantos que posso estar me confundindo). Só sei que, em meados de 2004, eu estava tão entusiasmado com “Eu sou Eddie”, a faixa de abertura, que sugeri, no próprio “Fantástico”, que eles seriam o som de 2005. Ah, os mistérios do pop...

O “estouro” previsto não aconteceu – mas a culpa não foi de quem fez a previsão! Por mim, Eddie era para ser o som do futuro. E, ao reencontrar a banda esta semana e ouvir seu último trabalho, ressuscitei essa esperança. “Metropolitano”, seu CD mais recente, foi gravado em 2005 – mas apresenta todo o vigor que me fascinou da primeira vez. Deixe-me voltar um pouco para a faixa “Eu sou Eddie”: quando a escutei pela primeira vez, mal conseguia controlar o entusiasmo; é daquelas músicas que não têm quase nada, é quase um mantra. A letra não passa de um verso de auto-afirmação – que é também seu título. E, como suporte, um som que era um misto de rock e eletrônico, mas tudo mínimo – minimalista. Ou talvez “Eu sou Eddie” não seja nada disso, mas no final, oferece uma daquelas misturas onde os ingredientes são tão subliminarmente interligados que você simplesmente desiste de detectá-los – e simplesmente curte a música. E a faixa dava o tom para o resto do CD – um tom presente também em “Metropolitano”.

Que tom é esse? Justamente o da mistura sutil. Na faixa-título, por exemplo, você vê notas de Gotan Project, Tom Zé, uma pitada de Aphex Twin, Adam and the Ants, e até um semba (um ritmo angolano que meu corretor ortográfico insiste em corrigir para “samba”...). “Maranguape”, a faixa seguinte, tem um pouco de rancho, de samba (agora grafado sem a ajuda do corretor), algo daquelas bandas folclóricas dos Bálcãs – e outros sons de difícil identificação... Na faixa 4, “As flores e as cores”, um pop arretado usa uma paleta que vai da Tropicália aos Tribalistas. “Danada” finge que vai ser um samba-canção, chama um violino, passa pelo Caribe, joga uns efeitos eletrônicos quase cafonas e só lá no finalzinho vem com um punhado de versos baratos e sublimes. E em “Vida boa”, a faixa mais próxima de um frevo – frevo mesmo! –, Eddie vem com um irresistível refrão infinito: “A gente tá querendo a vida boa, boa como a vida de outras pessoas, outras pessoas que também querem uma vida boa, boa como a vida de outras pessoas”. Êita!

Inspirado pela (re)descoberta de Eddie, perguntei ao cara que estava me atendendo na livraria se ele poderia me sugerir outra coisa naquela linha – pedido um pouco sem noção, confesso. Mas que acabou valendo a indicação do novo trabalho do Cordel do Fogo Encantado. Não tem nada a ver com Eddie, mas o tal cara, intuitivamente (como sempre acontece nas lojas de disco) achou que eu ia gostar. Aceitei a sugestão, mas não sem antes ouvir um “pito educado” por não conhecer essa banda (se você é pernambucano e/ou fã do Cordel há anos, deve estar achando graça...). Minha ignorância, diga-se, não era total. Já havia lido sobre shows da banda – sempre com elogios. Baseado apenas nisso, devo ter registrado o Cordel do Fogo Encantado na categoria “música regional” – e deixei por isso mesmo. Chegou a hora de rever alguns conceitos.

Ajudado pela capa do CD “Transfiguração” (que curiosamente me lembrava a de “Fizheuer Zieheuer”, de Ricardo Villalobos, já comentado aqui), resolvi embarcar no som do Cordel, e tive mais uma lição da cartilha que estudo há tempos: com cultura, deixe sempre o preconceito do lado de fora... De cara percebi que o som deles vai bem além do regional – e que as misturas e influências que eles incorporaram acabaram resultando num rico conjunto musical.

Para saber mais, fui, claro, à internet (www.cordeldofogoencantado.com.br). Vi logo que as referências que eu tinha das suas apresentações ao vivo não eram meros comentários, mas sim elogios fortes de admiradores cativos. Descobri que o grupo surgiu no teatro, e que “Transfiguração” – o terceiro CD deles – é o primeiro que não é derivado de um espetáculo (aliás, pelo contrário, surgiu primeiro como um corpo musical para depois ganhar o palco). E fiquei curioso o suficiente para ouvir o trabalho pela segunda vez – e com atenção redobrada.



É uma avalanche. Da embolada de “Aqui (ou memórias do cárcere)” ao canto transformado de “O lamento das águas sagradas”, ou da esquisitice de “Canto dos emigrantes” ao tom épico de “Morte e vida Stanley”, cada canção do Cordel é uma cascata de texturas – um convite a repetidas audições.

Passei o fim de semana na companhia desses dois grupos, me divertindo com Eddie e me intrigando com o Cordel do Fogo Encantado. Se os blocos do Recife e de Olinda não conseguiram me arrastar desta vez, coube a essas bandas a missão de eu voltar para casa com uma boa lembrança de Pernambuco. Aliás, como sempre...

2 comentários:

ALBERTO BRAYNER disse...

É INIMAGINÁVEL PARA ALGUÉM DISTANTE OU VENDO PELA TV SENTIR A VIBRAÇÃO DOS TOQUES E ACORDES DO CARNAVAL DE RUA DO RECIFE. É IMPOSSÍVEL ESCREVER E QUERER QUE ALGUÉM SINTA OU PENSE O QUE É ISSO. TEM QUE VIR. TEM QUE ESTAR NO RECIFE. TEM QUE PASSEAR PELAS RUAS LOTADAS. TEM QUE OLHAR NOS OLHOS FELIZES DOS QUE PASSAM EXULTANDO O CARNAVAL DE PERNAMBUCO E DO RECIFE. O LEÃO DO NORTE É SEMPRE MUITO VIVO, MAS DURANTE O CARNAVAL ELE MOSTRA O QUE ESSE POVO TÃO MISSIGENADO E BONITO FAZ PELA PAZ E OS EXEMPLOS QUE SÃO REPASSADOS.CAMARGO BEM QUE PODIA VIR CHUPAR UM CAJÚ, TOMAR UMA CANINHA, DEPOIS TOMAR UMA BATIDA DE PITANGA, COMER UM BOLO DE ROLO,TOMAR UM BANHO DE MAR COM ÁGUAS MORNAS,VISITAR OLINDA E SENTIR O CHEIRO DO PEIXE FRITO, AGULHAS FRITAS PELAS MORENAS BONITAS E EDUCADAS,ANGOLANAS, MOÇAMBIQUENHAS E IRMÃES D UM NOVO E ATRAENTE PERNAMBUCO. VENHA VISITAR UM PERNAMBUCO INTERIORIZADO E LINDO, FORTE E INDUSTRIALIZADO, ENSINANDO QUE ANTES DE TUDO TUDO ISSO É UM BRASIL DE PORTAS E COARAÇÃO IRMÃO AOS POVOS QUE QUEIRAM SABER O QUE É PAZ E ALEGRIA COM TRABALHO. OBRIGADO PELA OPORTUNIDADE.
ALBERTO BRAYNER 00 55 81 8851 8117
PROGRAMA EMPRESAS & ENGÓCIOS - NET RECIFE - CANAL 14 - APLAUSO PRODUTORA DE AUDIO & VÍDEO - RÁDIO APLAUSO NO SITE www.fmaplauso.com.br

Anônimo disse...

Pessoal esta entre nóe em Recife, alguns membros do Kilandukilu realizando um trabalho de formação com a turma do Grupo Pé no Chão e o fruto deste trabalho sera uma apresentação de dança no Teatro Santa Isabel no dia 24 de Novembro de 2010, as 9 da noite.
Veja detalhe no http://recifepenochao.blogspot.com/
Abraços
Jocimar