sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Profissionais Brasileiros em risco – fortalecimento do Real

Um dos aspectos que mais incentiva a vinda a Angola é a questão salarial. No Brasil a classe média está cada dia mais achatada e o poder de compra só diminui. O reajuste salarial sempre tem como referencia a inflação, contudo a impressão que dá é que o aumento, que nem sempre acontece, é insuficiente.

Aumentos a parte há de se considerar até que ponto, com a cotação do dólar perante o real diminuindo, vale vir trabalhar em Angola. Hoje estamos perto da cotação de R$ 2,00 = U$D 1,00, com uma cotação de R$ 1,50 a questão já não seria tão vantajosa. É fato que conta a experiência internacional, trabalhar fora, que foi o diferencial no meu caso. Entretanto à medida que o tempo passa, a saudade de casa aumenta, e com os salários no Brasil se equiparando aos de Angola, já não valerá vir para cá. Pior ainda, a tendência é ficar cada vez mais difícil contratar profissionais excelentes, o motivo é simples, vai-se ganhar mais no Brasil do que em Angola.

Outra questão é o que fazer com o dinheiro levado para o Brasil. Qual a melhor opção de investimento, manter em dólar, investir na bolsa de valores, renda fixa? Difícil decidir, a maioria das pessoas tem preferido deixar em dólar, guardado em um cofre ou coisa parecida.

Há quem possa dizer que o dólar é uma moeda muito forte e que o governo não vai deixar que ela desvalorize muito. Eu digo que o governo não tem como controlar isso, já que o nosso câmbio é flutuante, mais ainda, as medidas que o Brasil pode tomar para conter essa valorização já não estão tendo mesmo efeito. Quando falo isso as pessoas olham para mim com uma cara de “pronto, só quer ser o entendido”, na verdade as pessoas escutam o que querem escutar e não adianta dizer o contrário.

Se minha análise do mercado não for suficiente, vai ai a de um especialista que gosto muito. CARLOS ALBERTO SARDENBERG, jornalista, é âncora do programa CBN Brasil pela CBN, rede nacional de radiojornalismo. É comentarista econômico dos programas noticiosos da CBN, do Jornal das Dez (da Globonews) e do Jornal da Globo, da TV Globo. Escreve uma coluna em O Estado de S.Paulo, às segundas-feiras, e outra coluna, às quintas-feiras, no jornal O Globo. Mantém um blog no www.g1.com.br.

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DÓLAR A 2 REAIS. E DAÍ?
http://www.sardenberg.com.br/arquivoecdfres.asp?titulo=A%20ALTA%20DO%20D%D3LAR%20E%20A%20CONJUNTURA

Ainda assusta, especialmente os telejornais da noite. Mas o nome do jogo agora é câmbio flutuante. Quer dizer que o Banco Central não tem meta para a taxa de câmbio, não é obrigado a defender uma determinada cotação do dólar.

Ou seja, dólar a 2 reais não é sinal de crise ou de falta de confiança na economia brasileira. Tanto que boa parte do mercado acredita que o BC e o Tesouro gostariam que o dólar não caísse abaixo de R$ 1,95, para estimular as exportações. (Veja bem, não seria uma meta, mas uma cotação considerada boa...)

Em resumo, dólar a 2 reais é um fato do mercado e da conjuntura.

Muitos analistas acham que, neste momento, a cotação correta do dólar seria algo em torno de R$ 1,93 - isso considerando uma série de cálculos complicados e chatos, envolvendo taxas de juros locais e internacionais e o risco Brasil embutido nos títulos brasileiros lá fora. Enfim, uma parafernália que não vale a pena explicitar aqui.

Mas acredite: analistas de peso, como o ex-presidente do BC Gustavo Loyola, entendem que a cotação atual está fora dos parâmetros técnicos.

E por que isso acontece? Expectativas.

Dado o déficit mais alto que o esperado no comércio externo, o mercado passa a acreditar que o BC estaria até forçando uma alta do dólar - e consequente desvalorização do real - para estimular as exortações.

Acrescente que diretores do BC e do Tesouro andaram falando nos planos do governo de comprar até US$ 3 bilhões no mercado local neste ano - e o pessoal interpreta: está vendo!?, eles vão comprar para segurar um piso . . .

Isso posto, de nada adianta diretores do BC e do Tesouro explicarem que os US$ 3 bilhões são um teto para as compras; que o Tesouro não vai comprar se o mercado não estiver bom; que o Tesouro não vai comprar se isso for afetar irregularmente as cotações.

Depois que saiu a notícia da compra, tudo o mais passa a ser acessório.

Enfim, incorporou nas expectativas.

Acrescente o fracasso do primeiro leilão das novas bandas de celulares, pelas quais o BC contava com um ingresso de pelo menos US$ 3 bilhões de operadoras estrangeiras.

Ponha na panela a perspectiva de recessão nos EUA - o que diminuiria os investimentos de companhias americanas aqui - e vai se formando um quadro de menos dólares entrando, mais dólares saindo, e a cotação sobe...

Aí vem o último lance: como o dólar está subindo, o pessoal que vai precisar de moeda americana (importadores, agências de viagens, por exemplo) tratam de antecipar compras. E com mais demanda, a cotação do dólar sobe mais um pouco.

Eis aí a coisa toda.

No que se refere ao conjunto da economia brasileira, o importante é notar é que altas do dólar não têm provocado impacto significativo na inflação. Há mesmo alguns cálculos dizendo que, abaixo de R$ 2,20, o dólar não causa inflação.

Como a meta do governo é com a inflação - 4% neste ano - e como as coisas caminham dentro da meta, qual o problema?

Eis por que muita gente acha que a cotação do dólar vai cair logo que houver alguma alteração no humor. Que pode acontecer tão instantaneamente como a variação para pior nos últimos dias.

Mesmo porque continuam saindo vários indicadores na outra direção. Por exemplo, que bancos e empresas brasileiras estão aproveitando a queda dos juros nos EUA - e, pois, no mercado internacional - para antecipar captação de recursos lá fora.

Mas um dado realmente forte para reduzir a expectativa de alta do dólar seria uma recuperação no comércio externo.

Na manhã de terça, o mercado estava assim: dólar em queda, bolsa em alta, juros em queda.

Mas mercados mudam. . . .

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