segunda-feira, março 24, 2008

As zungueiras Angolanas no Brasil

Zungueira de tecido

Tudo o que está descrito na reportágem abaixo do Estadão é a mais pura verdade. É impressionante a quantidade de roupas e artigos brasileiros. Verifico andando pelas ruas que existem muitas lojas Portuguesas concorrendo com as Brasileiras, mas com certeza as Brasileiras fazem muito mais sucesso.

Recentemente ví as reportágens da Regina Casé no Fantástico, que por sinal aqui passa na segunda-feira a noite, falando das lojas de roupas Brasileiras. Conheci uma pessoa de Caruaru que têm 3 ou 4 lojas aqui e vive de vende roupa para Angolanos. Além do sucesso o nome das lojas sempre lembra a sua origem e em todas o nome Brasil aparece.

Realmente as novelas fazem muito sucesso e se depender do gosto do Angolano, o Brasil ainda vai vender muito para o publico daqui.


Domingo, 23 de Março de 2008 | Versão Impressa
Sacoleiras de Angola invadem SP

Já assíduas no Brás, elas seguem a moda de atrizes brasileiras e voltam à África carregadas de roupas e bijoux
Adriana Carranca
É hora do almoço de um dia ensolarado e as ruas estão cheias de belas mulheres negras alegres e falantes, de penteados caprichadíssimos, roupas de cores vibrantes e adornos dourados, mas sem fazer ''banga''. Elas falam um português muito ''giro'' entre si e estão carregadas de sacolas. São respaldadas por homens fortes que entram e saem dos pequenos hotéis da redondeza levando nos ombros imensas ''pastas'' lotadas de compras feitas por elas. Uma loja de calçados exibe a bandeira desse povo alegre e apaixonado pelo Brasil. Isso, unido ao burburinho e colorido nas ruas e, por um instante, tem-se a impressão de estar em Angola.

Mas o local descrito é a esquina das Ruas Cavalheiro e Joaquim Nabuco, no Brás, centro de São Paulo. Fazer ''banga'' é ostentar riqueza, ''giro'' é palavra herdada dos colonizadores portugueses e quer dizer legal e ''pastas'' é sinônimo de malas. São palavras que se aprende em um giro - este, do português brasileiro - pelo Brás. A cena se repete no Bom Retiro e, mais recentemente, nas pontas-de-estoque de Moema. As mulheres são sacoleiras e lojistas angolanas que vêm ao Brasil comprar roupas, calçados e acessórios para vender no seu país. Algumas atravessam o Atlântico a cada duas semanas.

No 5º andar do Hotel Vitória, na Rua Cavalheiro, Cristina Rafael, a Tininha, de 31 anos, abre a porta desconfiada. Como trazem muito ''kumbu'' para as compras, feitas à vista e pagas com dólares, as angolanas ficam espertas. Costumam viajar em grupo, não andam sozinhas e só se relacionam com outros angolanos. Mas ela logo abre o sorriso - tem um cunhado paulistano e está acostumada com os brasileiros.

No ''cubico'' com TV e ''geleira'', Tininha abre as seis ''pastas'', cada uma com US$ 2 mil em mercadorias, em média. São 204 kg de roupas e sapatos, 50 pares de Havaianas e cabelo. As angolanas adoram os fios lisos e os cachos soltos das brasileiras e chegam a pagar US$ 150 por um rabo-de-cavalo de madeixas naturais - o preço depende do comprimento. Na Mãe Lú, a primeira das oito lojas de cabelo no Brás, 90% das clientes são africanas.

Os jeans e as calças coloridas e justíssimas usadas por Solange e Gislaine, de Duas Caras (leia abaixo), são mais vendidos porque, segundo Tininha, as angolanas têm o corpo das brasileiras: bem distribuído, de coxas grossas e bumbum avantajado. E ginga, elas têm? Tininha acha graça: ginga, para ela, quer dizer bicicleta.

Com três filhos para cuidar, ela vende as roupas em casa. Paga cerca de US$ 100 por sete ou oito calças e blusas femininas no Brás e vende cada uma a US$ 30, US$ 40, US$ 100 em Luanda, uma das capitais mais caras do mundo. Mas para atravessar a alfândega em Angola ela paga entre US$ 100 e US$ 350 por mala e garante que o lucro é pouco. Com a valorização do real, a China passou a fazer concorrência, mas o sucesso das novelas brasileiras sustenta o comércio de moda entre os dois países. ''O Brasil é um bocadinho caro, mas compensa a qualidade'', diz Dolores Hilário, de 28 anos.

Sua clientela faz parte da classe média e alta de Angola, que aumenta no rastro do PIB, com taxa de crescimento de 20% ao ano, uma das mais altas do mundo, desde o fim da guerra civil. Ela busca a moda brasileira nas pontas-de-estoque de Moema. Na semana passada, embarcava com a amiga Fefinha, dona de um salão de cabeleireiro em Lubango (interior de Angola), com 408 kg de roupas e sapatos Jorge Alex.

Entre janeiro e março, mais de 800 angolanos desembarcaram em São Paulo, em dois vôos diários da South African Airlines - o dobro dos 385 que chegaram no mesmo período em 2007. O número pode ser muito maior. A Associação de Lojistas do Brás estima que 700 angolanas circulam todos os dias no bairro. De olho nelas, a OceanAir inaugura em 23 de abril o vôo São Paulo- Luanda três vezes por semana, em um Boeing 767-300 para 203 passageiros.

Hoje, único vôo direto entre Brasil e Angola faz a rota Luanda-Rio três vezes por semana em um 747-300 para até 400 passageiros. A companhia só permite 20 kg - e não há sacoleira que saia do Brasil com menos de 200 kg de bagagem. Para atendê-las, pipocaram no centro de São Paulo pequenas transportadoras como a Express Luanda, com matriz no número 99 da Rua Joaquim Nabuco e filial no Brás. Emprega 6 angolanos e 12 brasileiros e despacha 16 toneladas por semana para Luanda. Cobra U$ 5 por kg e faz a entrega em 15 dias.

Pelo menos oito hotéis simples do Brás são sustentados pelas angolanas. Com 84 apartamentos, a R$ 35 a diária com café da manhã, o Hotel Vitória tem 50% de sua ocupação garantida pelas estrangeiras. ''O Brás, hoje, depende das angolanas'', exagera o gerente Leonardo Hoeppner. Pelo menos 80 angolanos fazem ali o check-in semanalmente e ficam hospedadas, em média, cinco dias.

''As relações entre os dois países vêm desde o século 17, agora intensificadas pelo desenvolvimento de Angola. Embora tenha grande contingente de miseráveis, há uma considerável parcela da população com poder aquisitivo alto'', diz a professora de português e literatura africana da Universidade de São Paulo Rita Chaves. ''A concentração de renda e a fragilidade das instituições angolanas fazem o comércio informal sobreviver fortemente no país.''

GLOSSÁRIO

Avilo ou dikamba: Amigo

Bazar: Ir embora, vazar (gíria)

Bué: Muito

Chuimga: Chiclete

Cubico: Casa, quarto

Fazer banga: Ostentar marcas

Garina: Garota

Geleira: Geladeira

Ginga: Bicicleta

Giro: Legal (gíria)

Iá: Sim

Kandongueiro: Táxi, lotação

Kazucuteiro: Preguiçoso

Kumbu: Dinheiro

Machimbombo: Ônibus

Matabicho: Café da manhã

Musseque: Favela

Raias: Óculos de Sol

Salo: Trabalho

Zungueria: Ambulante

15 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Olá António.
Sou portuguesa, vivo em Viana do Castelo e em Maio eu e o meu marido vamos para Angola, mais precisamente para Huambo, trabalhar.
Já fiz várias pesquisas na net e falei com várias pessoas sobre Huambo e Angola e poucas são que dizem bem.
Todos sabemos que Angola é um país em reconstrução e que tem as dificuldades inerentes a isso.
Numa das minhas incurssoes pela net encontrei o teu blog, e acho que ninguem melhor para me dar uma ideia do que se passa aí do que uma pessoa que vive no país vai para 3 anos.
Todos dizem que as difuculdades e miséria são enormes, mas gostava de saber até que ponto. Gostava de saber com o que realmente posso contar quando aí chegar. E acho que me podes ajudar nesse aspecto. A minhas principais preocupaçoes prendem-se com a violência, a criminalidade, e a falta de infra estrutruras no Huambo. Por exemplo: existem supermercados? farmácias? Como é que se vive no Huambo?
Se e quando poderes ilucida as minhas duvidas.
Muito obrigado,

Vânia

Antônio Spíndola disse...

Vania

Quanto a criminalidade você não vai precisar se preocupar, é tranquilo huambo. Estive lá e me senti bem seguro. Os carros ficam abertos e não há gatunos. Supermercado existem sim, inclusive uma nova rede que está em toda Angola, Nosso Super. Quanto a alimentação também sem problemas. Farmácia é a mesma coisa, sem problemas, elas existem sim. O problema maior fica com saúde e educação. Se você tiver um problema sério terá que vir para Luanda. Educação não sei como é em Huambo.

Posso afirmar, venha sem medo. Claro que a infra tem seus problemas, mas se vem com o marido dá para se viver bem.

Abraço

Lua disse...

Muito obrigado!

Vânia e André

Havana Pinto disse...

Há alguns dias atrás, recebi a proposta de deixar Recife para trabalhar em Luanda, como Analista de Recursos Humanos, numa empresa da área de construção civil. Desde então, minhas noites têm sido muito longas... E foi numa dessas noites de insônia que eu tive a (triste) idéia de ir pesquisar sobre Angola na internet. Pronto! Acabei de me lascar. Depois que conheci seu blog, além de passar as noites em claro, não saio mais da frente do computador.
Brincadeiras à parte, e, apesar de saber que você já leu isso várias vezes, não posso deixar de dizer o quanto seus posts são importantes para pessoas que, como eu, precisam de todas as informações que possam ajudá-las a decidir se viverão ou não essa experiência.
Parabéns e obrigada pela ajuda.

Helder disse...

Caro Espíndola, Sou angolano e como tantos, precisei sair de Angola por causa da guerra. Encontro-me a viver no Brasil há 7 anos,ininterruptos, e estou casado com uma brasileira. Trabalho para a Oi(telemar Velox), numa das muitas prestadoras de serviços da mesma que é a Contax, como analista de treinamento. Queria muito parabenizálo pelo excelente trabalho que você vem realizando através deste blog maravilhoso, que são retratos vivos de um país maravilhoso, que só você tem sabido descrever, muito bem , através do teu olhar estrangeiro. Venho acompanhando o teu trabalho, e estive a ponto de chorar quando você disse que estava na minha terra natal, Huambo, a qual deixei quando criança para me refugiar em Luanda. Tenho 29 anos e parece que foi ontem que estive lá, logo após o fim da guerra. Continue com o seu excelente trabalho, que muito tem se identifica com o meu, pois, fiz análise de ssitemas na veiga, e desejo fazer uma pós em gerência de projetos, ou tentar uma certificação PMI. Deste teu fã aqui no Brasil Helder Jorge

Pilates et TRX disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Sónia disse...

Olá, sou apenas mais uma Angolana naturalizada Portuguesa, vim de Luanda ainda bem pequena e alimento um fascinio enorme por essa terra.Este blog alimentou-me um pouco a curiosidade, perdi a noção do tempo que aqui estou a ler, já me ri,já me emocionei, acho que as saudades desse país cresceram ainda mais depois de te ler.

Foi bom estar aqui, vou voltar com toda a certeza, parabéns pela forma simples e tão real com que nos dás um pouco de Angola.

Votos de toda a felicidade do mundo

Sónia

Anônimo disse...

Ola Antonio

Ha muitos anos que tento encontrar um irmao que foi para Angola em 1967, ele hoje tera cerca de 60 anos, chama-se Antonio Bras, e casado e tem filhos, a ultima vez que o vi tinha eu eu 2 anos, tudo quanto sei e que ele viveu em Catete/Quanza Norte/ Ndalatando/Luanda e que a cerca de 15 anos era vivo, para alguem que leia esta mensagem e que o conheca ou o tenha conhecido eu adorava contacta-lo, o meu email e a.bras@virgin.net
Obrigado

Anônimo disse...

Os Brasileiros, muito simpaticos os irmãos camaradas, legais sim sr. têm conosco Angolanos,muita história em comum...
mas têm tbm, lá no fundo todos os resquicios da colonização portuguesa...!

Unknown disse...

Olá Spídola!
Sou Pernambucana de Recife, e adoro angola, ainda não tive oportunidade de conhecer, mas é um dos meus sonhos.
Adorei seu blog, é ótimo assim, podemos nos sentir um pouco mais p´roximo dessa linda cultura.
Um forte abraço.
Parabens pelo blog, um dia se Deus me conceder esta graça irei conhecer Angola.
bjs Lu.

Anônimo disse...

Olá Antonio, gostaria de dar parabéns pelo excelente blog que faz desta terra tão rica que é Angola. Sou Nordestina tb, de Fortaleza-CE e é a quinta vez que venho a Angola passar férias com meu marido. A impressão que tenho é q conheço pouco e tenho pouca vivencia por aqui, mas folgo em saber q as coisas estão a melhorar cada vez mais, é o q noto a cada visita. Continua com este trabalho, pois suas experiencias aqui são de grande valia.

Abraço...Ana C

Raphael disse...

Fala bolinho! Faz trocentos dias que entro no teu blog e tu nao o atualiza desde que ainda estava no Brasil... hehehehehe
Escreve uma novidade ai! Grande abraco do seu amigo que tem muitas saudades!!!

L.U.I.S disse...

parabéns pelo blog ! sou brasileiro, de um pouco mais longe (São Paulo) provavelmente muitas dessas roupas vendidas por aí para angolanas, sairam de uma das mais famosas ruas de minha cidade, (Rua 25 de Março) que além do Brás também é famosa por ter comercio popular e que por dia passem mais de 1 milhão de pessoas por lá ...

obrigado por ser mais um meio virtual ao unir os países de lingua portuguesa !

saudações !

Celma disse...

.............Olâ!! sou angolana e vivo na cidade da Huíla-Lubango,a minha irmã vive no Huambo com o marido,porque teve que ir estudar numa faculdade de lá, no dia 02 de Abril de 2011 fui visitá-la, fiquei encantada cm a cidade, apesar de ter sido uma cidade que sofreu mtuito com a guerra, é uma cidade que está a evoluir muito bem! ñ há estradas esburacadas, ñ se ve lixo nas ruas, bom é uma cidade muito encantedora! apenas acho que a cidade do huambo deveria investir mais no turismo! adorei o blog,esta um espectaculo, tem de voltar a cidade do Lubango