Zungueira de tecido
Tudo o que está descrito na reportágem abaixo do Estadão é a mais pura verdade. É impressionante a quantidade de roupas e artigos brasileiros. Verifico andando pelas ruas que existem muitas lojas Portuguesas concorrendo com as Brasileiras, mas com certeza as Brasileiras fazem muito mais sucesso.
Recentemente ví as reportágens da Regina Casé no Fantástico, que por sinal aqui passa na segunda-feira a noite, falando das lojas de roupas Brasileiras. Conheci uma pessoa de Caruaru que têm 3 ou 4 lojas aqui e vive de vende roupa para Angolanos. Além do sucesso o nome das lojas sempre lembra a sua origem e em todas o nome Brasil aparece.
Realmente as novelas fazem muito sucesso e se depender do gosto do Angolano, o Brasil ainda vai vender muito para o publico daqui.
Domingo, 23 de Março de 2008 | Versão ImpressaSacoleiras de Angola invadem SP
Já assíduas no Brás, elas seguem a moda de atrizes brasileiras e voltam à África carregadas de roupas e bijoux
Adriana Carranca
É hora do almoço de um dia ensolarado e as ruas estão cheias de belas mulheres negras alegres e falantes, de penteados caprichadíssimos, roupas de cores vibrantes e adornos dourados, mas sem fazer ''banga''. Elas falam um português muito ''giro'' entre si e estão carregadas de sacolas. São respaldadas por homens fortes que entram e saem dos pequenos hotéis da redondeza levando nos ombros imensas ''pastas'' lotadas de compras feitas por elas. Uma loja de calçados exibe a bandeira desse povo alegre e apaixonado pelo Brasil. Isso, unido ao burburinho e colorido nas ruas e, por um instante, tem-se a impressão de estar em Angola.
Mas o local descrito é a esquina das Ruas Cavalheiro e Joaquim Nabuco, no Brás, centro de São Paulo. Fazer ''banga'' é ostentar riqueza, ''giro'' é palavra herdada dos colonizadores portugueses e quer dizer legal e ''pastas'' é sinônimo de malas. São palavras que se aprende em um giro - este, do português brasileiro - pelo Brás. A cena se repete no Bom Retiro e, mais recentemente, nas pontas-de-estoque de Moema. As mulheres são sacoleiras e lojistas angolanas que vêm ao Brasil comprar roupas, calçados e acessórios para vender no seu país. Algumas atravessam o Atlântico a cada duas semanas.
No 5º andar do Hotel Vitória, na Rua Cavalheiro, Cristina Rafael, a Tininha, de 31 anos, abre a porta desconfiada. Como trazem muito ''kumbu'' para as compras, feitas à vista e pagas com dólares, as angolanas ficam espertas. Costumam viajar em grupo, não andam sozinhas e só se relacionam com outros angolanos. Mas ela logo abre o sorriso - tem um cunhado paulistano e está acostumada com os brasileiros.
No ''cubico'' com TV e ''geleira'', Tininha abre as seis ''pastas'', cada uma com US$ 2 mil em mercadorias, em média. São 204 kg de roupas e sapatos, 50 pares de Havaianas e cabelo. As angolanas adoram os fios lisos e os cachos soltos das brasileiras e chegam a pagar US$ 150 por um rabo-de-cavalo de madeixas naturais - o preço depende do comprimento. Na Mãe Lú, a primeira das oito lojas de cabelo no Brás, 90% das clientes são africanas.
Os jeans e as calças coloridas e justíssimas usadas por Solange e Gislaine, de Duas Caras (leia abaixo), são mais vendidos porque, segundo Tininha, as angolanas têm o corpo das brasileiras: bem distribuído, de coxas grossas e bumbum avantajado. E ginga, elas têm? Tininha acha graça: ginga, para ela, quer dizer bicicleta.
Com três filhos para cuidar, ela vende as roupas em casa. Paga cerca de US$ 100 por sete ou oito calças e blusas femininas no Brás e vende cada uma a US$ 30, US$ 40, US$ 100 em Luanda, uma das capitais mais caras do mundo. Mas para atravessar a alfândega em Angola ela paga entre US$ 100 e US$ 350 por mala e garante que o lucro é pouco. Com a valorização do real, a China passou a fazer concorrência, mas o sucesso das novelas brasileiras sustenta o comércio de moda entre os dois países. ''O Brasil é um bocadinho caro, mas compensa a qualidade'', diz Dolores Hilário, de 28 anos.
Sua clientela faz parte da classe média e alta de Angola, que aumenta no rastro do PIB, com taxa de crescimento de 20% ao ano, uma das mais altas do mundo, desde o fim da guerra civil. Ela busca a moda brasileira nas pontas-de-estoque de Moema. Na semana passada, embarcava com a amiga Fefinha, dona de um salão de cabeleireiro em Lubango (interior de Angola), com 408 kg de roupas e sapatos Jorge Alex.
Entre janeiro e março, mais de 800 angolanos desembarcaram em São Paulo, em dois vôos diários da South African Airlines - o dobro dos 385 que chegaram no mesmo período em 2007. O número pode ser muito maior. A Associação de Lojistas do Brás estima que 700 angolanas circulam todos os dias no bairro. De olho nelas, a OceanAir inaugura em 23 de abril o vôo São Paulo- Luanda três vezes por semana, em um Boeing 767-300 para 203 passageiros.
Hoje, único vôo direto entre Brasil e Angola faz a rota Luanda-Rio três vezes por semana em um 747-300 para até 400 passageiros. A companhia só permite 20 kg - e não há sacoleira que saia do Brasil com menos de 200 kg de bagagem. Para atendê-las, pipocaram no centro de São Paulo pequenas transportadoras como a Express Luanda, com matriz no número 99 da Rua Joaquim Nabuco e filial no Brás. Emprega 6 angolanos e 12 brasileiros e despacha 16 toneladas por semana para Luanda. Cobra U$ 5 por kg e faz a entrega em 15 dias.
Pelo menos oito hotéis simples do Brás são sustentados pelas angolanas. Com 84 apartamentos, a R$ 35 a diária com café da manhã, o Hotel Vitória tem 50% de sua ocupação garantida pelas estrangeiras. ''O Brás, hoje, depende das angolanas'', exagera o gerente Leonardo Hoeppner. Pelo menos 80 angolanos fazem ali o check-in semanalmente e ficam hospedadas, em média, cinco dias.
''As relações entre os dois países vêm desde o século 17, agora intensificadas pelo desenvolvimento de Angola. Embora tenha grande contingente de miseráveis, há uma considerável parcela da população com poder aquisitivo alto'', diz a professora de português e literatura africana da Universidade de São Paulo Rita Chaves. ''A concentração de renda e a fragilidade das instituições angolanas fazem o comércio informal sobreviver fortemente no país.''
GLOSSÁRIOAvilo ou dikamba: Amigo
Bazar: Ir embora, vazar (gíria)
Bué: Muito
Chuimga: Chiclete
Cubico: Casa, quarto
Fazer banga: Ostentar marcas
Garina: Garota
Geleira: Geladeira
Ginga: Bicicleta
Giro: Legal (gíria)
Iá: Sim
Kandongueiro: Táxi, lotação
Kazucuteiro: Preguiçoso
Kumbu: Dinheiro
Machimbombo: Ônibus
Matabicho: Café da manhã
Musseque: Favela
Raias: Óculos de Sol
Salo: Trabalho
Zungueria: Ambulante