Está chovendo em Angola, então senta e chora!
Ontem caiu a maior chuva desde que eu me encontro em Angola. Para a maioria dos Brasileiros, que já estão aqui a mais tempo, também. A chuva, de pingos grandes e com bastante vento, parecia uma daquelas muitas que temos em Recife perto de junho, quando estamos no meio do inverno. Contudo para Luanda era algo que só pode ser definido como catástrofe.
Para começar quando começa a chover o primeiro reflexo são os engarrafamentos. A cidade para, e para chegar no trabalho demorou duas horas, quando o normal é apenas uma. Em seguida o barro que se espalha por toda cidade. Como muitas ruas não são asfaltadas a lama vira dona da situação. Não há galerias de escoamento da água das chuvas, ou seja, toda água fica empossada esperando evaporar. Como não tem um sistema de coleta de lixo e muito menos de esgoto, fica todo aquele “material” boiando e esperando a água simplesmente ir embora, uma belezura.
Em uma das principais vias de acesso para a zona sul, onde moro, passando pelo bairro do Samba, uma barreira desabou interditando todo transito e concentrando tudo pelo Rocha Pinto. Morph deveria estar embolando de rir, afinal sua máxima prevaleceu, “nada está tão ruim que não possa ficar pior”. O transito para voltar para casa estava ainda mais complicado do que o que encontramos pela manhã. A noite junta-se a água empossada do dia inteiro de chuva, a falta de postes de iluminação, as ruas alagadas, a M... boiando (desculpem a expressão mas é porque é literalmente isso), barreiras caídas, e por ai vai. Fora a barreira algumas pontes e casas desabaram, tudo por conta de uma única chuva.
Qualquer pessoa poderia dizer que isso é o fim do mundo, mas calma lá, o fim do mundo ainda está chegando. Quando a água secar, as ruas que estão cheias de lama vão ficar cheias de poeira, com isso a cidade fica uma pó só. O meu celular durante a chuva não funcionava, o meu não, a rede de telefonia móvel simplesmente não funcionava, ah a telefonia fixa também não funciona. Na volta para casa ontem, ao passar por uma rua que normalmente passamos, a água encobriu o farol do carro. Prejuízo com o carro que ficou todo molhado, afinal entrou água no carro. Fora isso tudo, com a quantidade de água que fica empossada, germinarão um batalhão de mosquitos. Há de se lembrar que o mosquito aqui não transmite uma gripezinha boba, transmite malária. Eita é dessa vez que eu me ferro.
Está montado o cenário do caos, agora é esperar para as próximas chuvas.
Abaixo matéria de hoje do jornal de Angola
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Chuvas causam sete mortos em Luanda
http://www.jornaldeangola.com/artigo.php?ID=55009&Seccao=geral
César André
As chuvas torrenciais que se abateram sobre a cidade de Luanda no fim da manhã de ontem causaram sete mortos e o desaparecimento de três crianças. As vítimas pereceram na sequência do desabamento de casas ou levadas pelas correntezas das águas.
Estes casos registaram-se nos bairros do Chinguar, nas proximidades da vala de drenagem da Ponte do Cabolombo (Benfica) e na Samba Grande, onde várias famílias ficaram desabrigadas.
António Guimarães, residente nas proximidades da vala de drenagem do Cabo Lombo, disse à reportagem do Jornal de Angola que para além de terem causado a morte de uma criança e o desaparecimento de uma outra, as águas das chuvas levaram para o mar diversos artigos de casas desabadas.
“É um caso muito sério. Mas acontece que não tínhamos outra alternativa senão construir as nossas casas neste terreno próximo do leito da vala de drenagem”, disse visivelmente entristecido António Guimarães.
Marcos Abreu, um dos moradores do Cabo Lombo, sugeriu que é importante que o Governo dê atenção aos moradores que residem nas proximidades da vala do Cabo Lombo, porque o local não é seguro.“Seria bom que o Governo, à semelhança do que tem feito com os moradores da Boavista e não só, evacuasse também esse pessoal que vive ao lado da vala”, disse Marcos Abreu.
Para além das mortes e do desabamento de casas, a circulação rodoviária em diversas ruas de Luanda ficou afectada pela chuva. As enxurradas causaram grandes engarrafamentos, pois tornaram intransitáveis várias vias. Nas imediações do Morro Bento, Samba, as areias invadiram a estrada tornando-a intransitável durante cerca de duas horas. A situação foi resolvida graças à pronta intervenção da administração municipal da Samba, que, em colaboração com a empresa Odebrechet, mobilizou 10 camiões e três moto niveladoras para retirar a areia.
As vias que dão acesso a rua Augusta até ao bairro da Camuxiba, também no município da Samba, também ficaram intransitáveis, causando assim grandes transtornos aos automobilistas que pretendiam evitar a via Morro da Luz, na altura bloqueada devido à invasão da estrada pelas areias.
No troço entre a Avenida 21 de Janeiro e a rotunda do Gamek, no bairro do Rocha Pinto, o tráfego estava de tal forma impedido que para atingirem a Clínica Multiperfil, Morro Bento ou Luanda Sul os automobilistas faziam uma hora.
Além dos danos causados na Samba, Rocha Pinto e outros bairros, informações davam conta de que as chuvas no Kikolo, no município do Cacuaco, bloquearam a estrada entre aquela localidade e o bairro Paraíso, deixando-o isolado.
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