Xixi na rua
Imaginem a cena: Um super engarrafamento voltado para casa, super mesmo, tipo 2:40 h para chegar. Aquele monte de carros que parecem não ter fim e muita vontade chegar. A conversa já começa a se repetir. Olho para a cara do motorista e seu olhar denuncia que se eu falar qualquer coisa, o mínimo que vai acontecer é ele olhar para mim com cara de quem quer me matar. Algumas pessoas passam vendendo pipoca, cabides de roupa, sapatos, comida, mas sinceramente, se oferecessem um atalho para chegar rápido eu seria capaz de pagar até uns U$ 100,00 dólares.
Quando tudo parasse fadado ao marasmo e a irritação, eis que surge de um Corola “Rabo de Pato” - já explico o que é isso. Uma senhora negra sai do veículo, provavelmente Angolana, bem vestida, com uma saia longa, aparentando um bom nível social quase uma socialite. Delicadamente ela sai do seu veículo numa classe que poder-se-ia chegar a pensar que esta descia para uma festa, na base de uma grande escadaria de mármore, no melhor estilo baile de debutantes. Olho para aquela mulher e minha imaginação vai longe, imagino a sua vida e que coisas fantásticas ela deve realizar. Penso como seria bom ter alguém ao meu lado e como minha vida seria muito mais prazerosa e tranqüila nesse lugar. Uma companhia de classe e estilo que pudesse me mostrar o melhor de Luanda, suas belezas e segredos que só quem é da terra conhece. Meu coração pulsa acelerado ao vê-la se aproximar do meu lado do carro, o do carona. Eu estava próximo à calçada, o que deixava o terreno livre para uma conversa informal sobre qualquer assunto, afinal, o que iríamos falar seria o menos importante, queria mesmo era conhecer aquela mulher de cabelos bem cuidados, roupa fina e um boca carnuda que até a Agelina Jouli ficaria com inveja.
No ápise da minha viagem, essa mulher passa por mim e se direciona para próximo ao muro, que estava ao meu lado. Sem sequer olhar para os lados e sem nenhuma cerimônia, puxa a saia para cima como se tivesse sido contratada para aquilo. Minha cabeça vai a mil e a essa altura todo mundo do meu carro, a exceção do motorista, está olhando para aquela bela mulher que de forma simples mais provocante continua a subir sua roupa.
Como que acordado de um sonho bom, ou melhor, iniciando um pesadelo, aquela mulher simplesmente baixa a calcinha e sem a menor cerimônia faz um belo de um xixi. Meu queixo veio na altura do joelho ao ver cena tão difícil de imaginar no Brasil. A mulher que até pouco tempo eu estava fantasiando em conhecê-la tinha feito um xixi para todo o engarrafamento ver. Todo o meu encanto acabou.
Perguntei ao motorista sobre aqui, ele sem sequer virar o rosto, disse que aquilo era normal. De fato com o passar dos dias fui vendo que as mulheres fazem se a menor cerimônia xixi nas ruas. Diferentemente dos homens que pelo menos se escondem atrás de um poste ou muro, as mulheres baixam onde estiverem e fazem.
Cultura realmente é algo que pregar peças, xixi em Angola é assim, tudo muito normal e natural. Deve até ser legal, no meio de um engarrafamento da uma boa relaxada. Entretanto tenho que confessar, não é nada normal para mim, todo o encanto por aquela mulher foi por água abaixo, ou melhor xixi a baixo.
Ah, Rabo de Pato é um modelo de Corola da Toyota do tipo Hatch ou Hatchback se preferirem. Durante muito tempo foi o carro mais importando para Angola vindo da Europa. Ainda se vem muitos exemplares desse na rua, alguns novos outros nem tanto e alguns que deveriam estar parados a muito tempo. Logo acima da mala tem uma pequena saliência, tipo um pequeno aerofólio que por ser arredondado dá a impressão de ser um rabo de um pato.
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